Parabéns pela abertura deste balcão. No país como no mundo, nada que se discuta servirá para mudar opiniões, vemos isso periódicamente nas campanhas eleitorais, e estudos bem recentes vêm afirmar que as campanhas de esclarecimento sobre matérias fundamentais ou de superior interesse das populações acabam por ser votadas mais pelo coração, egocentrismo e preconceito que pelo espirito crítico, debate ou introspecção profunda e lógica.
Por isso penso que o debate deste assunto não mudará opiniões a breve trecho. Por mim vejo que, mais do que o debate no imediato, são os dias e as noites que nos trazem a compreensão e a tolerância para tomarmos as decisões mais correctas na abordagem dos assuntos que nos interessam, que para os outros a decisão é fácil. Veja-se o futebol, assunto que não me apaixona, que fácil me é julgar a futilidade das suas derivas (e no entanto cá tem lugar cativo desde há muito).
Divago. Recordo que o AO foi subtilmente colocado em funcionamento por um governo prene de subtilezas (recorde-se o contexto histórico, estávamos em Janeiro de 2011, em Abril desse ano surgia sem surpresa o pedido de ajuda financeira, o governo minoritário manteve-se até Junho). Note-se que não falo de um partido, falo de pessoas, as que ardilozamente encontraram o mecanismo de ignição que colocou em marcha uma tremenda desnecessidade com intuitos que seriam dignos de análise noutro tempo e noutro espaço. O brilhantismo de execução que reconheço, vislumbra-se pela forma como o Estado, enquanto empregador e detentor dos desígnios da nação e defensor de putativos interesses de política externa, executa por acto regulamentar (a meu ver ilegítimo porque existe lei principal que se lhe impõe) a obrigatorietade dos seus dependentes hierárquicos, nomeadamente todo o funcionalismo público, onde se inclui o ensino oficial, aplicarem tal atrocidade à sociedade portuguesa. Como em tantos outros assuntos, também esta abordagem intempestiva deixou por resolver questões fundamentais com que a sociedade se vem debatendo há décadas no tratamento da linguagem escrita e que sobressaem numa análise cuidada do nível médio de escrita da generalidade da população, não vale a pena minorá-las, com um ensino escolar obrigatório até à porta da universidade, os jovens portugueses deviam escrever melhor.
A uniformização da língua, comprovadamente não existe. A ratificação pelos restantes países comprovadamente falhou. Que vantagens trouxe, a menos que a confusão e a discórdia abonem a alguém?
Deixo um elo (

) para um artigo que expõe uma opinião, com a qual concordo, acerca da (i)legalidade, sem pretender, como afirmei de início, demover ninguém:
https://www.publico.pt/2016/02/09/cultu ... or-1722769
O texto partilhado tem alguns erros de pontuação, não se tratando de uma obra artística são erros, enquadro-os nas tais questões fundamentais por resolver em relação à escrita difícil do português correcto, impossíveis de dirimir pela supressão de hifens ou consoantes. Também no jornalismo se dão e deviam ser menos. Se por um lado a forma como se escreve não deve levar a juízos de valor sobre a qualidade da matéria tratada ou dos conhecimentos do autor acerca da mesma, por outro é isso mesmo que acaba por se incutir na mente do leitor. Muitos dirão que quem não aderiu a esta reforma passará pois a escrever com erros. Neste campo teremos então duas classes de leitores, aqueles que reconhecerão a escrita anterior à reforma, criticos ou não dela mas com esse conhecimento, e os outros que por ignorância inocente não reconhecerão essa remanescência, mas muitos destes talvez nem saibam o que muitas das palavras aceites pela reforma que deveriam ter aprendido querem dizer, como outros de gerações anteriores por outras prioridades impostas por outros desmandos nunca souberam.
Os defensores do tal Acordo poderão querer terçar opiniões acerca dos aspectos técnicos da linguística subjacente, aqui ou noutro local, com quem o repudia. Se este ou aquele pê, se aquela ou a outra palavra, se a modernidade ou antiguidade, serão sempre discussões sobre matéria mal parida.