Coherence (
http://www.imdb.com/title/tt2866360/)
Nota: 5,8
Um daqueles filmes que tinha para aqui. Devo ter visto o trailer em algum lado ou em algum momento e achei que poderia ter uma ideia engraçada.
Logo de início salta à vista o tipo de filmagem amador (ou a imitar este estilo). Não sendo câmara à mão, acaba por trazer a mesma onda. Quase como que uma imagem de filme classe B, apresenta-nos cenas curtas com cortes, como se carregassem no stop, tal como se faz em filmagens amadoras em casas e festas particulares. Até alguns movimentos da câmara são rápidos demais, como se aprende a não fazer em qualquer instrução básica. Penso que, como sempre, este estilo amador pretende transpor realidade ao filme. Sendo um filme classificado como
sci-fi torna tudo mais difícil…
Mesmo que não soubesse de antemão que se tratava de um filme
sci-fi , desde cedo, através da acção e dos diálogos, é-nos passada esta informação. Um erro, na minha opinião.
Toda a descontracção da conversa fiada que as personagens proporcionam quererá continuar a cumprir o objectivo de nos envolver num ambiente realista. Descarado demais para um olho mais atento.
Entretanto, com o passar da acção, começam a tornar tudo mais interessante e a puxar pela curiosidade. É aqui que voltam a pôr o filme no seu nível e revelam todo o enredo para que os menos perspicazes não percam o interesse (isto se, a esta altura, já não tiverem perdido). Resumindo, estragam o que estavam a construir.
No final, com o culminar da história, fazendo um apanhado de tudo o que nos é apresentado, conseguem passar uma ideia engraçada.
Não foi uma daquelas situações em que tinham uma boa ideia e que foram consultar os finais clichés que poderiam usar. Neste caso, acho que foi mais o terem um fim interessante para uma ideia engraçada.
Se sugiro o filme? Não sou grande conhecedor de
sci-fi para poder sugeri-lo a quem gosta deste género. O melhor que posso dizer é, para quem tem uma hora e meia para ver uma ideia engraçada, que veja. Mas, existem outras «horas e meias» melhores.
True Grit (
http://www.imdb.com/title/tt1403865/)
Nota: 6
Um filme dos irmão Coen…
A cena inicial traz-nos fantasia. O ambiente de «bola de vidro com neve lá dentro» torna-a ainda mais fantástica (de fantasia).
Um ponto positivo deste filme é o poder de argumentação da protagonista. Não estava à espera de argumentos tão bons vindos de tal personagem. Muito engraçado.
Outro ponto engraçado são os momentos de comédia, este filme tem alguns muito bons. É sempre importante para descontrair o espectador. Isto quando são bem encaixados. Uma boa personagem para ilustrar estes momentos é um dos personagens do gang dos maus, chamemos-lhe «o galináceo», muito engraçado.
Tal como os momentos de comédia, também é preciso saber encaixar os momentos de violência, sobretudo quando são à «Tarantino style», como é o caso deste filme. Pessoalmente, gosto muito.
Não sendo influenciado pela cena inicial, achei desde cedo e até ao final, que o filme tinha um «toque Disney», se é que me entendem. Por esta razão, e pelo filme no geral, fiquei com vontade de explorar melhor a filmografia desta dupla tão conceituada. Cada vez que me falam deles vem-me à ideia que irei ter um grande momento de cinema, pois é por isto que eles são conhecidos, bom cinema.
Neste filme em particular não fiquei impressionado positivamente. Não gostei muito do filme, possivelmente pelas altas expectativas. Obviamente que está bem escrito mas queria muito mais. Ficará para uma próxima.
Sin City (
http://www.imdb.com/title/tt0401792/)
Nota: 8
Sim, o primeiro. Tinha na ideia que era um grande filme mas, como já não me lembrava bem do filme, decidi vê-lo antes de ver o segundo.
Penso que a melhor forma de analisar este filme é história a história.
The Yellow Bastard:
Esta primeira história tem um tema pesado que poderá chocar os mais sensíveis. Nunca é fácil de digerir histórias que envolvam maus-tratos a crianças, especialmente nos moldes em que são apresentados aqui. Por outro lado, ao apresentarem a criança vítima com uma personalidade e atitudes tão adultas, acabam por conseguir suavizar o choque do tema em questão.
O toque de comédia que mais gosto nesta história é a forma como os «martelos» (pessoas executantes dos trabalhos sujos de uma organização mafiosa) falam. Usualmente, este tipo de personagens são conhecidas pela sua ignorância e inerente capacidade para a violência. Nestes dois, temos, possivelmente, apenas a segunda característica pois a primeira é muito bem disfarçada pelo seu palavreado cuidado (ou não…).
Não parecendo, tendo em conta toda a descrição dada até agora, o tema central acaba por ser o amor. Temos aqui uma história que poderá rivalizar com o Romeu e Julieta. Grande Bruce Willis.
No geral, podendo até alargar-se a apreciação ao filme no seu todo, as personagens são muito boas.
The Customer is Always Right:
Esta é uma curta que cumpre as premissas deste tipo de filme, ou seja, intriga e deixa-nos a pensar. Um conceito muito interessante com um final aberto para servir tudo e todos. Curto e conciso e com qualidade. Não se pode pedir mais.
The Hard Goodbye:
Sei que a característica que vou enunciar se aplica a todo o filme mas quero realça-la, especificamente, nesta curta: grandes planos!
Outro ponto que se sobressai das restantes histórias: o protagonista! Esta foi a minha personagem preferida.
O seu modus operandi é como gosto, natural. Segue o seu instinto e a sua natureza. Não vai de acordo com as normas legais nem com as ilegais, vai de acordo com o que sente. Sendo ele diferente, age de forma diferente. Os seus métodos, a sua postura, tornam esta história macabra, tal como a primeira, mas por motivos diferentes.
Outra vez perante uma história de amor mas, aqui, perante dois tipos de amor. O amor que surge da surpresa e o amor instintivo, isto é, o amor de mãe.
O fim… será mau? Não sei bem… Será que importa? Penso que não. Toda a «viagem» é muito boa.
The Big Fatkill:
Por associar o Grindhouse ao Tarantino, aqui temos o seu estilo a actuar «à larga», não tivesse ele acompanhado a realização deste filme.
Mais amor à mistura mas, nesta história, sobressai mais a história da «Old Town». Temos uma ideia bem pensada de uma cidade comanda por prostitutas que sabem muito bem como se defender. O ambiente, as personagens e as suas funções, estão todas muito bem conseguidas.
As lutas e a forma como nos são apresentadas as «cenas ensanguentadas» fazem-me apelar ao estilo supramencionado. Sendo este um estilo que tanto gosto e olhando para a forma é contada, incluindo a sua reviravolta. Só posso dizer que adorei.
Existem características deste filme que são transversais a todas as histórias que o compõem. São histórias de amor passadas na Cidade do Pecado, cada uma com a sua visão do amor, mais ou menos destorcida.
Em todas as histórias temos o prazer de contar com grandes actores que nos oferecem grandes personagens.
Temos grandes planos durante todo o filme, sendo a sua melhor característica a forma como usam o contraste de cores. Fazendo sobressair cores de forma inteligente, no constante preto e branco.
A forma escolhida para narrar estas histórias é excelente. Uma sensibilidade perfeita entre a terceira e a primeira pessoa. Distanciando e aproximando da acção, tanto as personagens como nós, qual valsa.
Uma obra de arte! Obrigado!
Boyhood (
http://www.imdb.com/title/tt1065073/)
Nota: 6,5
A primeira coisa que me fez querer ver este filme foi o trailer. Entretanto fiquei curioso por ouvir que tinha sido realizado durante 12 anos. Depois de ler, esclareço que o filme foi filmado num período de 39 dias, ao longo de 12 anos. Assim, os actores dão vida às personagens de uma forma mais realista, não tendo que recorrer a maquiagem e afins, para ficarem mais velhos. Estão naturalmente envelhecidos.
O filme acompanha a vida de uma família composta por uma mãe solteira e um casal de filhos. Através desta família e do seu convívio com as restantes pessoas que a rodeiam, conseguimos ficar com uma imagem geral do estereótipo americano.
Nada melhor que o Texas, e todo o seu ambiente nacionalista para construir esta imagem cliché que vem à ideia de muita gente quando nos referimos ao povo americano. Desde as campanhas eleitorais ao venerar das bandeiras, passando pela fé e outros pontos inerentes a esta cultura. Toda esta informação é-nos passada em pano de fundo, isto se, para o espectador, o importante for o quotidiano desta família.
Centrando-me na família, o filme começa por mostrar as típicas «guerras» e brincadeiras de um casal de irmãos. Toda a descoberta que Mason Jr. (Ellar Coltrane) vai fazendo do mundo que o rodeia e a forma como Samantha (Lorelei Linklater) arrelia o seu irmão. Típico.
Gostei especialmente desta fase inicial, por me identificar com algumas das situações. Mais ainda, tendo em conta a geração em que o filme se desenrola, acompanhando, mais ou menos, a minha. As músicas, os programas de televisão, um pouco de tudo.
Este é um daqueles filmes que nos faz pensar em certas situações da vida, por vezes julgando as personagens e por vezes identificando-nos com algumas atitudes, reacções e situações. Gosto deste género de filmes mesmo por estas razões.
Dito isto, poderia ser um filme que tivesse adorado. Penso que não adorei por faltar algo. Talvez ser um pouco mais pesado ou não ter umas passagens tão desconexas. Não sei bem.
Gostei de acompanhar as personagens ao longo destes 12 anos. É sempre bom conhecer uma história nova, especialmente com boas actuações. Não sabia que Ethan Hawke participava neste filme e fiquei contente quando apareceu. Por coincidência mesmo no dia em que eu tinha dito que gostava desse actor…
Para quem gosta de explorar o mundo musical, através de certos diálogos, aprende-se um pouco acerca de algumas bandas americanas.
É um filme interessante, vale a pena ver.
Sin City: A Dame to Kill For (
http://www.imdb.com/title/tt0458481/)
Nota: 7,1
Depois de ter visto o primeiro não poderia esperar muito para ver a sequela.
Admito que estava influenciado pelas opiniões que me tinham dado deste filme (disseram-me que era pior que o primeiro) e, por esta razão, vi-o com «um pé atrás».
A opinião geral que tive do filme foi que está «mais banda-desenhada», ou seja, recorre muito mais à animação. Este facto não o faz melhor nem pior, apenas diferente. As animações são muito boas, parecendo que estamos a ler a banda-desenhada.
Este filme também é mais bruto. Tem muito mais violência, sangue, lutas, tem mais acção. Mais uma vez, não é melhor nem pior, é outra forma de apresentar o filme.
O que se mantém é o ambiente, a Cidade do Pecado; as boas personagens, desde as já conhecidas do filme anterior às novas; e o amor nas suas várias perspectivas.
Foi pena ter visto uma «versão normal» e não uma
extended version, como aconteceu na última vez que vi o Sin City. Digo isto por faltarem as divisões entre as várias histórias, com aquele aspecto de capa introdutória. Sempre são mais uns toques artísticos a nível de
lettering e desenho.
Sentido falta desta divisão, fui pesquisar os títulos das várias histórias e, assim, deixo aqui a minha opinião em relação a cada uma delas.
Just Another Saturday Night:
Apenas mais uma noite de Marv (Mickey Rourke), a minha personagem preferida do primeiro filme. Ficámos a conhecer as suas origens, deu-nos cenas de violência como já nos habituou, introduzindo a violência toda que estava para vir neste filme.
The Long Bad Night (Part I):
A grande nova aquisição de Sin City, Johnny (Joseph Gordon Levitt). Sendo eu um fã deste actor, não poderia deixar de ficar contente com a sua aparição. Como sempre, traz-nos uma grande actuação. Esta foi a minha personagem preferida nesta sequela. Gostei do ambiente de jogo, explorando bem a sorte e azar a vários níveis. A violência eleva-se muito nesta parte da história, especialmente pelos dedos de Johnny.
A Dame to Kill For:
Talvez a melhor história. Dá umas reviravoltas interessantes. É a história que se mantém mais fiel à exploração da temática do amor, na sua perspectiva sexual. Este antigo (para nós novo) Dwight McCarthy (interpretado aqui por Josh Brolin) traz-nos uma visão da paixão cega, tal como deve ser, sem qualquer pingo de racionalidade. A sua luta interior acompanha muito bem a acção pois esta é a história que, possivelmente, terá mais acção. Quando Miho (Jamie Chung) entra em acção, haverá sangue de certeza.
A demência de Ava Lord (Eva Green) dá um grande contributo para a excelência deste «episódio», juntamente com Marv e Manute (Dennis Haysbert).
The Long Bad Night (Part II):
Continuamos a acompanhar Johnny na sua demanda. Mantém a sua postura a todo o custo e não desiste dos seus ideais. A sua personalidade fará com que Sin City revele um pouco mais dos seus pecados. Eleva o enredo e alimenta os sentimentos negativos que a maioria dos espectadores terá pelo «mau da fita», como que introduzindo o próximo capítulo.
Nancy's Last Dance:
Sem Nancy Callahan (Jessica Alba), Sin City não seria a mesma. Ela tanto serve de adereço de cenário, levando algumas personagens a revelarem os seus pensamentos, como de «estrela da companhia», com todos os focos centrados nela.
A sua história de amor transforma-se aqui em vingança. Ficamos agarrados ao enredo, sofrendo com Nancy, quase que querendo ajudá-la.
A sua degradação leva ao seu renascimento, ao acordar. Mais não digo.
Fazendo um balanço final, estes dois filmes cumprem a regra de que o primeiro é sempre o primeiro. Ou seja, o primeiro filme trouxe a novidade, um estilo novo e deu-nos a conhecer este mundo. Agora, só peço que não parem e que continuem a trazer mais histórias da Cidade do Pecado. Há sempre boas histórias para contar se explorarem as entranhas desta cidade.
Vejam!
Twin Peaks: Fire Walk with Me (
http://www.imdb.com/title/tt0105665/)
Nota: 7,4
Depois de saber que David Lynch ia fazer a segunda temporada de Twin Peaks, decidi finalmente pegar nesta série de culto.
Adorei a série! Todo o ambiente sobrenatural muito bem disfarçado (até certo ponto) pelas próprias personagens que são estranhas o suficiente para cultivar este ambiente, deixando-me a pensar, inicialmente, se seria por elas que o ambiente era como era ou se havia algo mais.
O que mais agarra na série é mesmo o mote de «quem matou a Laura Palma?». Queremos incessantemente descobrir o culpado pois conseguimos desconfiar de tudo e todos, ainda mais quando começamos a conhecer todas as (estranhas) ligações que as personagens têm entre si.
Após a grande revelação, quando finalmente se descobre quem é o assassino, a série cai um pouco, visto que o grande mote é desvendado. A partir daqui, começa a busca pelo «porquê?». Começamos a conhecer o mundo verdadeiramente sobrenatural por trás de Twin Peaks e do assassino de Laura Palmer.
Como qualquer boa série, estamos agarrados à personagens e ao ambiente que as rodeia, e queremos mais e mais para podermos continuar a acompanhar a vida, neste caso, de Twin Peaks.
A série acaba quase que prometendo uma segunda temporada. Deve ter sido difícil para quem a viu na altura em que foi feita. Não sabendo que iria haver uma segunda temporada. Ou talvez soubessem, se acreditassem na promessa de Laura Palmer… Aqui, vi que David Lynch é mesmo um rei do cinema. Grande projecto a longo termo.
Mas o vício não acaba com o fim da série porque ainda há este «doce» para quem está agarrado a Twin Peaks. Este filme vem-nos dar aquilo que a série não deu, ou seja, conhecer melhor Laura Palmer.
O filme começa bem, com uma personagem excêntrica muito interessante, Lil.
Depois, os agentes do FBI vão averiguar o caso que na série é apenas referido, a morte de Teresa Banks. Esta morte deu-se noutra cidade mais suja que Twin Peaks e com personagens ainda mais estranhas, autênticos «bichos-do-mato». Não era nada mal pensado fazer uma série passada nesta cidade, fica a ideia…
E, finalmente chegamos a Twin Peaks e à personagem que tanto se esperava. Conhecemos Laura Palmer e todos os seus defeitos bem como algumas virtudes. Uma miúda baralhada com muito para esconder.
O que mais gostei neste filme foi a cena passada na sala
vip (chamemos-lhe assim) nas traseiras do bar, onde Laura Palmer revela a Donna um pouco do seu mundo obscuro. Adorei todo o ambiente que envolve essa sala e a forma como as personagens se envolvem com o espaço. É nesta cena que temos o privilégio de ver o melhor plano do filme (na minha opinião obviamente). A câmara a explorar lentamente um chão composto por beatas e garrafas. Uma sujidade extrema que nada destoa com as interacções das personagens que compõem esta cena.
Aproveitando o ambiente de bar posso referir que a nível de banda sonora este filme está mais completo visto que a série acaba por ter apenas umas três músicas de fundo, felicidade, tristeza e amor.
O que gostei menos foi o facto de Donna ser interpretada por uma actriz diferente. Isto acaba por fazer com que o filme perca um pouco de força no que diz respeito à ligação entre este e a série.
O balanço final foi muito positivo e deixou-me com vontade de ter mais, como já esperava. Agora é rezar por uma obra de arte para os inícios de 2016. Entretanto vou-me ocupando a explorar os trabalhos de David Lynch.
Frank (
http://www.imdb.com/title/tt1605717/)
Nota: 6,6
Ao ver o trailer deste filme deparei-me com um conceito muito engraçado, um cantor excêntrico que nunca (nunca mesmo!) tira o seu adereço, uma cabeça gigante, qual boneco animado.
Este filme tem um grande início onde vemos que para Jon (Domhnall Gleeson) tudo é música. Ele passeia pelas ruas da sua pequena cidade e faz letras de tudo o que vê, com os mais pequenos pormenores (passo a expressão). Promete desde cedo ser um filme excêntrico, uma autêntica «fritadela», diga-se.
Depois, todo o desenrolar da acção é despoletado pelas demais «avariadas» personagens, criando cenas desconexas, fora do normal. Tais personagens têm (e vão) de se afastar da sociedade para darem aso à excentricidade da criatividade.
É neste ambiente afastado da sociedade que conhecemos melhor Frank e companhia. Deparamo-nos com os momentos mais hilariantes e tentamos percebê-los.
Gostei do conceito apresentado, através da luta interior de Jon, da desmistificação da escuridão por detrás de certos criadores de música. A sua busca pelos seus sentimentos mais recônditos.
No final, após conhecer a verdade acerca de Frank, disse que esta personagem deveria existir, era bom que assim fosse. Estes personagens excêntricos temperam o nosso mundo que tende a ficar cada vez mais padronizado, dentro de tanta pseudo-diferenciação.
Depois de pesquisar, descobri que Frank existiu. Chris Sievey era o seu nome e Frank Sidebottom o seu nome artístico. Na realidade, ele era mais excêntrico do que o Frank apresentado no filme. Pena que cantava pior que o Frank ficcional. Explorem esta personagem tão interessante e oiçam a sua música. Em termos de musicalidade, tem umas músicas muito interessantes.
Vale a pena ver este filme para ficarem a conhecer esta personagem, por algumas mensagens que nos são passadas bem como pela música em si. Para quem gosta de música, vale ainda mais a pena, tanto pelo ambiente e dilemas que rodeiam estes artistas, como pela sua criatividade a nível de métodos e execução.
Rabbits (
http://www.imdb.com/title/tt0347840/)
Nota: 7
E este foi o meu regresso ao mundo de David Lynch. Arriscado. Podia ter sido uma viagem sem regresso.
Nem toda a gente conhece esta obra, visto não ser um filme «normal» (caso existam filmes normais de David Lynch). Digo normal na forma como é montado, olhando para a sua estrutura (será que este filme tem estrutura?).
Esta é uma média metragem composta por várias partes. É-nos apresentado um palco com um cenário composto por um sofá, uma mesinha com um telefone, uma tábua de passar a ferro, uma entrada (ou saída) para o resto da casa e uma porta de entrada. Tal e qual um teatro.
Para completar a peça precisamos de actores e público.
Os actores estão vestidos de coelhos com roupas de pessoas. São três e, dentro das «peles de coelhos, temos Jack (Scott Coffey), Suzie (Naomi Watts) e Jane (Rebekah Del Rio e Laura Harring).
A audiência participa cada vez que alguém (ou melhor, um coelho) entra pela porta da rua ou quando se lembram de rir, em cenas que nada têm de comédia. Estas risadas são a única coisa mais perto de comédia que podemos ter neste filme. No entanto, a forma descabida como acontecem, acaba por torná-las mais macabras do que engraçadas.
Temos a peça completa. Agora só falta a história e a acção que a conta.
A história… Acho que não podemos dizer que temos uma história visto que não há um princípio, um meio e um fim.
Mas temos acção. Esta acção é composta pelos movimentos repetitivos dos coelhos, pelos seus diálogos soltos, pelo demónio e pelo fósforo.
Falo em diálogos soltos pois um dos coelhos fala, por exemplo, em horas, e outro coelho só fala deste temas uns diálogos depois. Não falo mais do demónio e do fósforo por que não há muito mais a dizer.
Temos ainda momentos musicais e o declamar de estrofes obscuras que nos tentam contar algo que fica apenas na imaginação de cada um.
Tal como um sonho, isto é, um pesadelo, a acção não faz muito sentido, a não ser para quem o está a ter (e mesmo assim nem sempre). A minha interpretação pessoal é mesmo esta, isto poderá ser um pesadelo de David Lynch. Se muitos de nós escrevêssemos os nossos pesadelos, assim que acordamos sobressaltados, poderiam haver mais obras destas.
Macabro, obscuro, esquizofrénico, terrorífico, estes são alguns dos adjectivos que posso utilizar para descrever este filme.
Juntando a mestria de David Lynch em construir grandes momentos cinematográficos a esta narrativa, temos um produto final a que se pode chamar arte. Tal como a restante arte, especialmente este género mais abstracto, não é para toda a gente. Uns vão gostar e outros vão odiar. No entanto, penso que todos deveriam ver, de noite, sozinhos.
Depois podem ir ler acerca deste filme e irão encontrar o mesmo que eu, várias interpretações muito pessoais de pessoas que adoraram e odiaram.
Acrescento que vi esta sequência de cenas com má qualidade de imagem e de som (desfasado), o que tornou tudo muito mais atrofiado. Deixo aqui o pedido de me contactarem caso descubram um dvd original com este filme. Gostava de ter esta obra de arte.