The Broken Circle Breakdown (
http://www.imdb.com/title/tt2024519/)
Nota: 7,3
Pensa que ia ver um filme americano (induzido em erro não apenas, mas também, pela capa do filme) e deparei-me com um filme Belga, o cinema europeu bem representado.
Tal como podíamos esperar de um filme típico do cinema europeu trazem-nos o nudismo para quebrar o pudor, utilizam também o tema das tatuagens em ambientes mais conservadores para acentuarem a discussão eterna da adaptação das sociedades aos comportamentos desviantes e brindam-nos com um tema pesado e que nos dá muito que pensar, um casal que enfrenta a trágica tarefa de enfrentar o cancro da (muito) jovem filha.
O filme é apresentado através de uma acção que vai alternando entre o passado e o presente, uma boa forma de apresentar/justificar/enquadrar os acontecimentos/atitudes/reacções das personagens, principalmente do casal protagonista deste filme.
Este casal é jovem e vive num ambiente rústico. A mãe é uma forasteira que abriu uma loja de tatuagens, algo fora do contexto do ambiente em questão. O pai é parte da região mas acaba por se sentir desenquadrado devido ao amor que sente pela cultura country típica dos Estados Unidos da América. O seu romance é digno de uma história de grande qualidade até que a doença da filha se atravessa nesta história de encantar. Nada pior poderia acontecer e dá-nos muito que pensar.
Não fosse este filme realizado de forma a fazer-nos pensar, incluem também outros temas polémicos como a manipulação do povo por parte dos Estados, elevando os seus interesses acima da vida de qualquer outra pessoa. Aplicado a este filme, fala-se das opções existentes para a cura do cancro que não são mais exploradas, não são dados financiamentos, sob argumentos religiosos. Serão estes argumentos simples «palas» culturais ou jogos de interesses?
Esta questão leva-nos a outra questão abordada no filme, a luta eterna entre a religião e a ciência. Volto a questionar, deveremos elevar as convicções acima da integridade dos demais? Deveremos prejudicar apenas porque as normas de certa área ditam que não aceitam certas acções?
Perante o desespero vêm os actos irracionais e a demência atinge sem piedade. As nossas convicções mudam perante momentos impensáveis/inesperados/indesejáveis. A degradação apresenta-se como um fim (muito) difícil de escapar e as forças escasseiam quando somos um contra o todo. Neste tipo de situações, e tal como vi numa série, penso, será fácil ser realista sem ser pessimista? Ou no meio da degradação estes conceitos acabam por ser sinónimos?
Não posso divagar muito mais sobre o filme pois evito sempre ser spoiler e, quando vi o filme, fiquei contente por não saber nada acerca dele, fui mesmo «às escuras» e adorei.
Quero ainda realçar dois pontos fundamentais deste filme: grandes planos e grande banda sonora.
Os planos que mais gostei foram aquém sem expressão, impávidos, vazios. Parece contraditório, mas são mesmo estes os adjectivos que quero utilizar. São planos simples como o ambiente rústico que mencionei e «insossos» para acompanhar o vazio que se vai apoderando do interior das personagens bem como do local onde estas se deslocam (toda a região, em geral, e a casa onde moram, especificamente). São planos que elevam a expressão «uma imagem vale por mil palavras».
A música country (dão muito a este filme!), com as suas letras religiosas (algumas), trazem a contradição «à baila». Isto é o que Didier (Johan Heldenbergh) gosta, esta é a cultura em que quer acreditar, isto é o que ele critica, isto é o que o prejudica.
Acrescento ainda que nada disto seria conseguido sem as grandes representações, especialmente, dos protagonistas.
Agora a escrever esta crítica ao som da banda sonora deste filme, vejo que é mesmo uma obra de arte. O cinema europeu tem alma!
Compliance (
http://www.imdb.com/title/tt1971352/)
Nota: 6,2
Foi o conceito deste filme que me chamou á atenção, alguém que através de um telefone consegue manipular a acção de um conjunto de pessoas, levando-os a fazer o que a sua mente psicopata deseja. Aqui o ponto central é a elevada capacidade de manipulação que o responsável pelo telefonema possui. Concluímos que o poder de argumentação pode ser um tipo de arma muito perigoso quando usado para maus fins, tal como podemos verificar a nível político por todo o mundo, por exemplo. Tanto no mundo real como neste filme, os mais capazes utilizam a ignorância dos demais para conseguiram atingir os seus objectivos.
Neste filme assistimos a uma autêntica lavagem cerebral das personagens que vão, gradualmente, sendo inseridas no local de acção principal, uma compartição dentro de uma loja de fast food. O próprio espaço ajuda nesta missão do agressor visto ser um espaço pequeno que «asfixia» as personagens, levando-nos a sentir o mesmo pelas situações desconfortáveis que se desenrolam naquele espaço que se retrai cada vez mais, acompanhando o sentimento da personagem principal. Toda esta demência pode ser ilustrada por um plano sarcástico específico (quem vir o filme vai perceber).
A nível de planos, são de realçar alguns planos pormenor muito bons da comida e do serviço, como por exemplo o plano que foca simplesmente o acto de encher uma bebida, muito bom.
Não há muito mais a dizer sobre este filme. É um filme intenso, o que faz com que a acção se desenrole rapidamente, sem darmos por isso. Acabamos por viver o filme ao mesmo tempo que as personagens. Não é um excelente filme mas também não é mau. Tem os seus pormenores e dá para pensar um pouco, especialmente por dizerem que houveram milhares de casos destes nos EUA.
The Loved Ones (
http://www.imdb.com/title/tt1316536/)
Nota: 5,5
O trailer deste filme fez com que não criasse grandes expectativas em relação a este filme e só o vi porque um amigo me disse que o filme tinha uns bons pormenores e que não era tau mau como eu pensava.
Em termos mais técnicos posso dizer que gostei de um ou outro plano em slow motion e das letras das músicas que acompanham a acção, algumas muito bem conseguidas, acrescentando valor ao filme (que vai precisando destes incentivos).
Podemos considerar este filme um filme gore tendo em conta que se centra essencialmente na violência gráfica, tentando ao máximo passar-nos sentimentos de nojo, asco, dor, coisas deste género dignas de uma mente perversa. Consegue cumprir o objectivo? Sim, por vezes. Foi por causa de uma das «técnicas» de tortura aplicadas que o filme me foi sugerido (juntamente com o conceito por detrás desta técnica) mas, sinceramente, não achei que fosse assim tão original e/ou bem pensada para valer a visualização do filme.
Para que não fiquemos constantemente dentro deste tipo de ambiente pesado, e para mostrar que o filme tem uma base cómica/satírica, vamos presenciando uma acção paralela onde a personagem Jamie (Richard Wilson), grande amigo do protagonista, leva ao baile de finalistas uma miúda gótica. Aqui presenciamos alguns momentos realmente engraçados.
Assim de uma forma geral, o filme não tem uma história nada interessante mas pode dar que pensar a algumas pessoas, através dos traumas da agressora. A nível do objectivo gore (caso exista), na minha opinião, penso que devem manter o ambiente pesado ao longo de todo o filme, desanuviando com um grande conceito/ideia em vez de usarem comédia.
Para fechar nada melhor que a cena final, apesar de exagerada, está bem pensada.
Bananas (
http://www.imdb.com/title/tt0066808/)
Nota: 6,9
Mais um filme de Woody Allen e, desta feita, o terceiro como realizador.
Explorando o seu historial, vou ficando cada vez mais convicto de que Woody Allen seguiu sempre uma linha de crítica social com recurso à comédia. Sou da opinião de que se somos bons em alguma coisa, devemos explorar essa capacidade e aprimorá-la mais e mais e mais. E assim faz este Senhor do Cinema.
Nada melhor do que começar com um genérico original muito engraçado e colorido e cheio de ritmo. Logo no genérico temos, em tom de sátira, sons e animações alusivos a tiros, que marcam o passo da música.
Depois o filme abre com uma grande cena, mais uma vez sarcástica (não fosse este o tom de todo o filme), de um relato premonitório do assassinato de um presidente ditador, com direito a entrevista à vítima e tudo.
Continuamos com mais cenas que pretendem ridicularizar certos vícios da sociedade norte-americana, como são exemplo a venda de produtos inovadores que qualquer pessoa que pare para pensar percebe que são inventados de forma a criar necessidades junto de quem não se esquece que o cérebro possui a função de raciocinar. Os produtos apresentados neste filme são ridiculamente desnecessários, tornando-os bons objectos de comédia. Woody Allen como «experimentador» destes produtos, actua nas suas demonstrações ao nível de Mr. Bean.
E continua o filme com este estilo no sense, com uma música rápida e alegre que nos transporta para um estilo cartoon juntamente com palhaçadas à Mr. Magoo. No meio de tanta palhaçada, Woody Allen vai-nos passando muitas mensagens críticas e moral (quando se tratam de assuntos mais sérios) tudo de uma forma fluída e sem interrupções do cerne caricato deste filme. Tudo isto como se fazer um argumento deste nível fosse algo fácil.
Penso que o (pouco) SPOILER que apresento no parágrafo seguinte não afecta a visualização do filme em nada. Digo eu que odeio spoiler!
Gostava de me focar em algo que me intrigou e que me levou a fazer alguma pesquisa. Passo a explicar. Este filme é de 1971 e fala de um golpe de Estado em San Marcos na América do Sul (apresentado como fictício numa lista da wikipédia de países fictícios da América, presentes em filme e jogos, por exemplo), golpe que os Estados Unidos da América apoiaram, derrubando um ditador para substituir por um novo presidente que se revelou outro ditador.
Volto a realçar 1971!
Qual não é o espanto, em 1973 os Estados Unidos da América apoiaram um golpe de estado no Chile, derrubando um ditador e, no final, quem acabou por presidir este país foi o famoso Augusto Pinochet, dito como ditador.
Sei que é hábito deste país meter-se nestas «andanças», e que Woody Allen não foi nenhum Nostradamus, mas há que realçar o seu tacto para as situações sociais.
Outra curiosidade a nível de «premonições» foi a cena do intérprete que ajudou na tradução (extremamente necessária…) da conversa entre o presidente de San Marcos e o receptivo nos Estados Unidos da América. Lembrem-se do intérprete da cerimónia fúnebre de Nelson Mandela.
Mais uma curiosidade. Eu que sou mau com caras, consegui identificar Sylvester Stallone neste filme. Procurem, não há-de ser difícil.
E agora tenho de continuar a explorar a filmografia deste Rei da Crítica Social.
The Shawshank Redemption (
http://www.imdb.com/title/tt0111161/)
Nota: 6,9
Escudo na mão e vamos lá. Podem começar a arremessar as pedras mas tenho de admitir que fiquei desiludido com «o filme mais bem cotado do imdb», tal como sempre o conheci.
Sei que tenho de enquadrar a opinião com a altura em que o filme foi feito e dentro do género, que pode ser o melhor nesta categoria, todos esses pontos. No entanto, queria mais.
Um filme adaptado de uma história escrita por Stephen King (tal como o nome indica, um Rei), juntamente com tudo o que ouvi deste filme durante vários anos, levou-me a pensar «O que me vai surpreender?», ou seja, qual será o grande momento?
Basicamente a resposta foi, nada. Isto não faz com que este filme seja um mau filme (longe disso!), apenas não me surpreendeu.
Afinal o que é que este filme me trouxe?
Um bom momento de cinema. Começo pelos grandes actores que nunca nos deixam ficar mal, sempre em excelente forma e com actuações muito boas. Morgan Freeman, Tim Robbins e companhia, obrigado!
A nível de mensagem, passa-nos perfeitamente a ideia do que é a vida na prisão, toda a perda de valores inerente a penas de prisão elevadas (essencialmente nestas mas também para penas mais curtas) e o abuso de poder por parte das autoridades que, neste ambiente fechado e controlado, podem exponenciar estes abusos e serem mais «criativos» (com toda a conotação negativa que se possa aplicar a este conceito). Mais uma vez assistimos ao afastar da ética em prol dos interesses pessoais (já me sinto um «disco riscado» por mencionar este tipo de situações nestas últimas críticas).
Foi-me apresentado um conceito relacionado, em parte, com a perda de valores, que explica perfeitamente o impacto das penas de prisão elevadas na personalidade, na vida, dos presos. Este conceito é o de «institucionalizado» e refere-se ao facto de alguns reclusos, por passarem mais tempo presos do que «cá fora», perdem a capacidade de viverem em sociedade, fazendo com que esta opção seja inviável (ou quase). Não estando a defender os reclusos, estou apenas a apresentar o conceito que, pela sua designação, é por si muito esclarecedor.
Como em qualquer filme bem construído, a história é fluída e não damos pelas suas quase 2 horas e meia de duração.
Quero então dizer que gostei do filme e o meu desânimo prendeu-se apenas com o facto de não me ter surpreendido. De resto, bom filme.
Nota: só para dar mais uma «facadinha», os sons dos socos, presentes neste filme, são muito engraçados. Por exemplo, quando voltei a ver partes dos filmes de Bruce Lee (que acompanharam a minha infância), estes sons (utilizados excessivamente) fizeram com que fosse muito difícil ter «coragem» para voltar a rever estes filmes. Mas ainda hei-de fazê-lo…
Nynphomaniac: Vol. I e Vol. II (
http://www.imdb.com/title/tt1937390/;
http://www.imdb.com/title/tt2382009/)
Nota: 7,2
Vou falar dos dois filmes em conjunto visto que são literalmente a divisão de um filme em duas partes e não duas partes distintas de uma história.
O filme começa com o ecrã preto levando-nos a utilizar a audição como o único sentido de recepção da obra que nos querem oferecer. É uma forma interessante de explorar a arte cinematográfica que, na sua definição, pressupõe imagem. Através dos sons que ouvimos criamos as nossas próprias imagens pois queremos «à força» este resultado, porque à partida, não podemos estar à espera de outra coisa estando a assistir a um filme.
Quando finalmente somos presenteados com imagem, nada melhor que os planos espectaculares que nos são dados, começando a preparar-nos para a cena inicial, através de ruas sujas e pesadas, fazendo planos de cima para baixo e de baixo para cima, explorando buracos, aberturas, orifícios, como que se o cenário tivesse sexualidade.
Posso comparar este filme ao «The Sunset Limited» pelo formato que apresenta de duas personagens que se conhecem - sendo que uma é salva pela outra-, o contar de histórias e o debater de pontos de vistas. Tudo isto leva a que o espectador participe nesta conversa ao absorver as opiniões e/ou factos e ao concordar/discordar e/ou identificar-se com eles ou julgá-los.
Esta é a história de uma ninfomaníaca - que se julga a pior pessoa do mundo por todos os actos cometidos desde o início da sua existência – que é escutada por um inocente – que opina acerca da sua história sem «apontar o dedo». O engraçado deste filme passa muito pela forma inesperada como este homem, com plena inocência, vai comentando passagens das histórias que ouve. Por vezes, faz paralelismos que fogem completamente às ideias formatadas da sociedade ocidental (o que leva o espectador ocidental a ficar surpreendido e, provavelmente, também os restantes) e, outra vezes, utiliza a arte e/ou religião para fazer estes paralelismos.
O filme é muito rico, posso até chamar-lhe uma obra de arte, pela quantidade de informação cultural que fornece (através dos paralelismos supramencionados), pelos planos excelentes (mais ao estilo europeu que ao de Hollywood – em geral) que nos vai oferecendo ao longo de todo o filme, pela forma como está montada a história e pelos excelentes pormenores técnicos de edição (neste ponto gostaria de salientar a ilustração tanto dos capítulos como de algumas cenas específicas do filme).
Infelizmente, no meio de tanta perfeição, tenho de apontar alguns aspectos que fizeram com que este filme não fosse, a título pessoal, um daqueles filmes que me deixam a falar dele durante 1 mês (talvez fique uma semana).
Gostava que as personagens, por vezes, não interpretassem tanto a informação apresentada, deixando isso para o espectador. Mais uma vez querem atingir um público mais vasto, caindo no erro de explicar o que está implícito. Se não explicarem, poderão atingir na mesma um vasto público, a única diferença é que darão azo a um maior número de interpretações, o que penso ser positivo, especialmente num filme em que temos tanto para interpretar – era só mais um pouco.
Outra crítica negativa é o facto de justificarem por palavras (quase que irónicas) alguns clichés que decidem utilizar ao nível da história. É uma forma inteligente de utilizar o cliché nos filmes, ridicularizá-lo. No entanto, não utilizar clichés é o desafio…
Não tenho visto muitos filmes (apesar de estar a inserir tantas críticas de uma vez, foram filmes que vi nos últimos meses), e por isso, sendo este um dos poucos, fiquei muito contente pela elevada qualidade. Resumindo, um filme chocante, provocador e que nos faz pensar acerca de vários temas. Uma peça de arte. Avé Lars Von Trier!