O ultimo filme que vi foi:

Antevisão dos filmes mais esperados, críticas, apreciações.

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etiko
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Mensagem por etiko » 23 mar 2014, 16:53

Mais uma curta do maravilhoso site que descobri!

Dark Noir
Nota: 6

O estilo noir como este é descrito. Grande animação a nível técnico, tão realista que se pode dizer que a curta tem partes fantasiadas pela animação mais fantástica que a "principal". A história não é má mas também não é excelente. É suficiente para não destruir a qualidade da animação e para a duração da curta.


August: Osage County (http://www.imdb.com/title/tt1322269/)
Nota: 7

Mais um filme que foi nomeado para os Óscares 2014.
Cedo a representação de Meryl Streep prometeu algo de grandioso e foi a isso que tive a hipótese de assistir até ao fim do filme. Tal como o papel de Cate Blanchett em «Blue Jasmine», também Meryl Streep teve a difícil tarefa de nos mostrar a decadência da mente humana e as mudanças de humor e de raciocínio, repentinas e antagónicas. No caso de Violet (personagem interpretada por Meryl Streep), esta decadência deve-se ao constante consumo de medicação com efeitos directos ao nível do discernimento, da vontade, conseguindo até afectar a personalidade.
Todos estes problemas têm como "companhia" um ambiente familiar complicado. À medida que a acção avança vamos ficando a par dos mais variados problemas de todos os membros desta família, ou melhor, de todas as pessoas que se encontram em torno desta família.
O que torna a história interessante acaba por não ser o acontecimento principal mas tudo o que este despoletou.
A construção das personagens está muito boa. A maioria tem uma história interessante e, principalmente, características muito próprias.
Interesso-me muito por este tema, famílias e todos as histórias e problemas que possam provir das suas relações. A esse nível, este filme também foca alguns temas importantes como alcoolismo, vício em drogas, traições, relações amorosas entre familiares, divórcio, crianças problemáticas, segredos de família, e mais um ou outro problema.
Juntando todos estes temas e um elenco de luxo só podia resultar um bom filme com uma grande consistência a nível de interpretações e argumento.
Mais uma vez volto a frisar a excelente interpretação de Meryl Streep, que apenas não ganhou o Óscar porque Cate Blanchett teve a oportunidade de interpretar um papel criado por Woody Allen.
É um filme que recomendo a toda a gente, menos a quem esteja a enfrentar este tipo de problemas. Não vão arranjar soluções e podem «cair» um pouco mais... ou não.

Nota: Mais uma participação de Juliette Lewis. O registo mantém-se (a cabeça não esá «no sítio certo») mas muito «suave» em relação ao que estou habituado.
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Mensagem por etiko » 29 mar 2014, 13:06

E só agora tive tempo para me sentar e escrever acerca da minha ida ao Monstra (Festival de Animação de Lisboa) este ano. Desta vez fui apenas a duas sessões de curtas e, sinceramente, não fiquei com vontade de ver mais porque, no geral, não foram excelentes.
Um pequeno aparte: porque é que toda agente estava a falar da Estética? Eu, só fui ver os bonecos.

COMPETIÇÃO CURTAS 1

Long Bridge of Desired Direction (http://www.imdb.com/title/tt3377406/)
Nota: 5
O dever (obrigação!) de salvarmos uma vida acima de qualquer interesse pessoal. O estilo de desenho é engraçado.

Lonely Bones (http://www.imdb.com/title/tt2594972/)
Nota: 6,5
A tensão é a característica principal desta curta. Agarra-nos pela intensidade do som e do ambiente pesado. Tem personagens macabras muito boas. Pode-se caracterizar como thriller com uma pitada de terror. Gostei do estilo mas não tem um enredo palpável.

Astigmatismo (http://www.imdb.com/title/tt2914716/)
Nota: 3,5
Basicamente é uma personagem que vê um mundo totalmente diferente quando perde os seus óculos. Não gostei. A animação e a história não me cativaram.

Cargo Cult (http://www.imdb.com/title/tt3047142/)
Nota: 6
Este estilo de animação é interessante. Gostei do pormenor de haver mais detalhe no desenho do que o autor pretende salientar. Mostra o deslumbre de uma tribo pela tecnologia. Foca ainda o ambiente de guerra, apesar de, na minha opinião, servir apenas para salientar ainda mais o deslumbre da tribo.

Subconscious Password (http://www.imdb.com/title/tt3004842/)
Nota: 7
Muito bom. A ideia está muito interessante. Muitos de nós já passámos por esta situação: não nos lembrarmos do nome de alguém que nos cumprimenta. O jogo fantástico que se passa dentro da cabeça do protagonista, todas as personagens que são «chamadas a intervir», está tudo muito bem pensado. O tipo de animação é excelente.

Autour du lac (http://www.imdb.com/title/tt3010364/)
Nota: 4
Uma curta naïf na animação e a única coisa que gostei foi a banda sonora. Não deve ser o meu estilo...

"Mademoiselle Kiki et les Montparnos (Kiki of Montparnasse) (http://www.imdb.com/title/tt2850814/)
Nota: 6,5
Gostei da história e da forma como é contada. Tem um humor muito apurado. O estilo de animação é espirituoso bem como o ambiente. Ai a estética.

Los Andes (http://www.imdb.com/title/tt3166582/)
Nota: 7
Adorei. Fez-me lembrar o estilo de BLU (vídeo de graffiti em stop motion). Adoro esta técnica. Mais que a história fico deslumbrado com a acção, tal membro da tribo em «Cargo Cult».

The Hyuga Episode of Kojiki
Nota: 5
Ver esta curta foi como olhar para um livro e ouvirmos o narrador. Tem o seu prestígio pela importância cultural que a história acarreta. No entanto, não me cativou.

Drunker than the Skunk (http://www.imdb.com/title/tt2920072/)
Nota: 6,5
Gostei da história, do tipo de animação e do tom do narrador. É daquelas curtas que nos desperta o desejo de haver uma série sobre o protagonista.

COMPETIÇÃO CURTAS 2

Collectors (http://www.imdb.com/title/tt2898702/)
Nota: 6
Uma crítica ao consumismo e á ganância. Muito original na forma como explora este tema. Em termos de animação, é básica.

The End (http://www.imdb.com/title/tt2583210/)
Nota: 3
«Epah tá bem!». É isto que tenho a dizer. Não gostei.

Sangre de unicornio (Unicorn Blood) (http://www.imdb.com/title/tt2788990/)
Nota: 6,5
Um ambiente pesado. Com um narrador de voz demoníaca. Através de personagens simbólicamente «fofinhas», isto é, ursos de peluche, é demonstrada a teoria de que o Homem é naturalmente mau. Gostei!

Palmipedarium (http://www.imdb.com/title/tt2421764/)
Nota: 4,5
Não acho muito piada a este tipo de animação, principalmente sem uma história interessante para a sustentar. Apenas o último acto da personagem principal tem um toque interessante.

Recycled (http://www.imdb.com/title/tt3044432/)
Nota: 6
Depois de explicado o conceito é muito interessante. Foram recolhidos milhares de negativos de uma zona de reciclagem em Beijing e montaram esta curta que se destaca pelo impacto visual (Estética?!)

Koffie (http://www.imdb.com/title/tt2537590/)
Nota: 6,5
Um estilho de desenho muito bem conseguido que deve explorar a pintura com café. O humor é a base desta curta. Todos nós já fomos ignorados por um empregado de mesa. Muito bom.

Gurêto rabitto (The Great Rabbit) (http://www.imdb.com/title/tt2199377/)
Nota: 4
Não achei grande piada aos desenhos nem à história (acho que nem a percebi e não tenho grande interesse em explorá-la). Mais uma curta...

Obida (The Wound) (http://www.imdb.com/title/tt3009584/)
Nota: 4,5
Os ressentimentos de uma velha senhora. Mais uma vez, mais uma curta...

Trespass (http://www.imdb.com/title/tt3009588/)
Nota: 7
Um curta em stop motion que tem muito trabalho de edição por trás. Muito boa técnica e visualmente. Dentro das curtas abstractas ou de autor, esta vale a pena ver.

Gloria Victoria (http://www.imdb.com/title/tt3010302/)
Nota: 4,5
Uma guerra de imagens. Tem muita cor mas não animou este dia de festival.


Annie Hall (http://www.imdb.com/title/tt0075686/)
Nota: 8

Sem grandes opções quando quero ver um filme de comédia, acabei por encontrar esta sugestão numa das inúmeras listas dos «melhores filmes de comédia».
Não me canso de salientar que adoro Woody Allen como realizador e escritor e que, até hoje, nunca me desiludiu. A forma como constrói personagens e desconstrói a estrutura da narrativa é de «bradar aos céus».
Costumo dizer que não aprecio muito o cinema anterior à década de 80 mas certos realizadores mostram-me que estou errado. Este filme é excelente!
Todo o filme se centra na obcessão de Alvy Singer pela sua história com Annie Hall. Maioritariamente através do diálogo (área de mestrismo de Woody Allen), vamos conhecendo Alvy Singer e todas as características que constroem esta personagem. Um homem que tem uma guerra interior constante pois não consegue deixar de se preocupar com os mais variados temas que o rodeiam. A política é um tema que o incomoda bastante, bem como o racismo para com o povo Judeu ao qual pertence. Mas estes são aspectos que apenas ajudam a traçar uma personagem obcessiva e compulsiva nos seus actos, pois não consegue conter a sua opinião, criando situações mais que caricatas, constrangedoras para ele próprio mas aos olhos dos «de fora».
Agora pensem como será esta personagem em ambientes amorosos. São exploradas as relações amorosas antes, durante e depois da «principal», a relação com Annie Hall. Simplesmente o ambiente perfeito para as personagens de Woody Allen darem azo às suas peculiaridades.
A forma casual como a história se desenrola e o realismo das personagens levam-me a viver o filme como se fosse uma história do meu dia-a-dia, identificando-me com muitas características e situações que são exploradas neste filme.
A nível técnico Woody Allen traz-nos momentos muito criativos como falar directamente para a câmara e, ainda, incentivar à intervenção de personagens que não pertencem à história deste filme. Estes momentos, além do humor, são como um link num texto online, ou seja, servem para complementar a informação sem desvirtuar o conteúdo.
Gostaria ainda de salientar a participação de Steve Buscemi num papel que lhe encaixa perfeitamente, não muito são. É estranho vê-lo com tantos anos a menos.
Decididamente quero ver todos os filmes de Woody Allen e já arranjei mais uma «relíquia» para ver.
Para todos os que gostam deste realizador e que ainda não tenham visto este filme, não percam tempo.
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Mensagem por etiko » 06 abr 2014, 14:44

Cashback (http://www.imdb.com/title/tt0460740/)
Nota: 6,3

O início deste filme promete muito. A história é contada através de um narrador – o próprio protagonista -, e dá-se logo uma cena inicial muito caricata e com uma cena de violência disfarçada pelo tom como é descrita.
O facto de Ben (Sean Biggerstaff) falar obcessivamente sobre o fim do seu relacionamento fez-me automaticamente lembrar do filme que vi há pouco tempo, com a mesma base, e que adorei, «Annie Hall» de Woody Allen. Sabia que muito dificilmente conseguiria acompanhar o nível deste último mas a abordagem é diferente e, por isso, ficava apenas este conceito obsessivo como «ponte de ligação», o que aumentou a minha receptividade para com este filme.
Como consequência do desenlaço do seu namoro, Ben não consegue dormir durante várias horas seguidas e, este facto, ainda me agarrou mais, por ser algo que me deixa intrigado. Imaginem o tempo que teríamos e tudo o que poderíamos fazer se não dormíssemos... sei que muita gente não o deseja.
A perspectiva como Ben vê o mundo que o rodeia é a de um artista. Todos os pormenores que realça e a forma como consegue ver beleza nos mais simples detalhes fazem-nos ver tudo segundo o seu ponto de vista.
Se conseguirmos isolar neste filme a acção que se centra directamente no protagonista – como se tivéssemos um dom tal como Ben –, temos um filme com ideias originais e muito bem realizadas. Infelizmente o filme é feito por um todo e, antes de acabar «a primeira metade do filme», a história começa a «descambar», entrando em clichés.
Quando se dá esta «mudança», ainda penso que estão apenas a mostrar uma cena de comédia totalmente ridícula, para desanuviar ou com qualquer outro propósito. Afinal, o único propósito é delinear a decadência do filme.
Mais uma vez voltei a ter a mesma conversa, é pena quando alguém tem uma grande ideia e depois, para não ter o «trabalho» de continuar com um nível elevado de criação ou simplesmente por falta de competência (o que acho pouco provável devido à qualidade inicial) ou mau gosto (talvez um pouco mais provável), «consulta os manuais de cenas/finais clichés» apenas para finalizar a sua «obra».
Um ponto negativo – admito que o classifico desta forma tendo em conta os meus gostos pessoais –, prende-se ao materializar da capacidade de Ben, vindo aumentar o meu desânimo para com este filme.
Por fim, quero apenas realçar a personagem Brian (Marc Pickering), que tal como Biaggio em «The Kings of Summer» (mas com muito menos qualidade!), podem ser isoladas do resto do filme e vistas como um «ingrediente extra». Muito engraçado.
No final acabou por ser uma desilusão.


Y Tu Mamá También (http://www.imdb.com/title/tt0460740/)
Nota: 6,9

Já nem sei há quantos anos eu queria ver este filme mas, finalmente, já o vi.
O pior inimigo de certos filmes estava presente, a expectativa.
Desde o feedback que me deram, à entusiasmada sugestão, passando por Gael García Bernal (de «Amores Perros») e, ainda, o tema; tudo isto fez com que elevasse muito a fasquia antes de ver o filme.
Desde cedo o filme agarrou-me pela forma como o narrador ia apresentando as personagens, a relação e opiniões que tinham entre si.
Rapidamente conseguimos traçar uma linha comum entre os dois protagonistas deste filme, estão na flor da juventude e totalmente viciados em prazer e diversão. Desde o sexo a drogas, festas e a competição tão comum nestas idades, fazendo com que cada um queira ir mais longe que o outro, querendo sempre mais e mais.
Vão sendo introduzidas personagens no filme, sempre apresentadas pelo narrador. Esta característica do filme, o facto de ser narrado, dá-lhe um toque interessante, muito pelas palavras escolhidas para contar os pormenores que nos querem mostrar.
A forma fatídica como muitas vezes o narrador apresenta a vida de muitas das personagens, falando de quem perderam, acrescenta um tom sério ao filme, criando um ambiente um pouco mais pesado. Possivelmente para contrabalançar toda a energia e «maluqueira» de Julio e Tenoch. É uma boa forma de não nos deixar «ir na onda» destas duas personagens, focando-nos sempre no tom sério do filme.
Através de um simples passeio destes dois amigos e da mulher do primo de Tenoch, temos o prazer de assistir à confrontação destes dois jovens para com temas que os melhores amigos nunca se tinham lembrado de discutir, ou tido a coragem de se confrontarem e/ou permitirem-se pensar acerca deles.
Através de personagens muito humanas e de uma história simples, somos obrigados a pensar em certos assuntos e somos confrontados com o dilema de como reagiríamos perante tais situações…
O que dizem, como agem, as suas boas e más decisões acabam por se mostrar universais e penso que seja esse o facto que faz deste um bom filme.
A título pessoal, alterava um pormenor e conseguiria atingir o mesmo ponto de vista. Apenas para o filme ficar mais a minha medida, para o pontuar consoante as minhas expectativas.
Este é um filme mexicano que dá bom nome ao cinema deste país. No entanto não tanto ao país, devido aos problemas sociais que são suavemente mostrados em plano de fundo/secundário.


Ryan (http://www.imdb.com/title/tt0414469/)
Nota: 7

Como que uma viagem ao interior de Chris Landreth, representando através do distorcer das imagens, o rebuscar dos pensamentos que raras vezes se mostram nítidos.
Chris Landreth apresenta-nos a carreira de Ryan (um artista que tal como ele vingou na carreira pelas mãos da animação) e as razões da degradação desta: primeiro cocaína, à qual escapou e, depois, álcool, que o agarrou.
Através de Ryan – ou melhor, do seu vício – consegue passar a mensagem de um desgosto pessoal ligado ao vício que também destruiu a sua mão, o álcool.
Um género de animação muito característico (tendo como comparação a curta «Subconscious Password»), em 3D e cheio de metáforas, através de simbolismos fantásticos e sobrenaturais. Todo o ambiente e personagens secundárias estão em sintonia com estas características.
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Mensagem por RICARDOB » 10 abr 2014, 05:25

Obrigado pelas tuas "críticas".
Aproveito sempre que posso para ler e já retirei daqui ideias para ver filmes.:pop:
Se tivesse tempo também faria algumas.
Cumps. :wink:
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Mensagem por etiko » 06 mai 2014, 19:44

RICARDOB Escreveu:Obrigado pelas tuas "críticas".
Aproveito sempre que posso para ler e já retirei daqui ideias para ver filmes.:pop:
Se tivesse tempo também faria algumas.
Cumps. :wink:
Mais uma vez digo que fico contente por saber que há quem leia e que as críticas sirvam o seu propósito, sugerir bons filmes e evitar que percam tempo com outros. Também não tenho tido tempo, ainda tenho que escrever sobre os 2 últimos que vi, "L'amico di famiglia" e "The Grand Budapest Hotel".

A ver se mais gente tem tempo para sugerir uns filmes.

Cumprimentos!
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Mensagem por etiko » 27 jul 2014, 15:58

L'amico di famiglia (http://www.imdb.com/title/tt0772105/)
Nota: 6,8

Ao fim de uns meses sem «aparecer» volto para vos deixar a opinião acerca dos filmes que vi.
Já faz um bom tempo que vi este filme mas ainda tenho na memória a forma artística como Paolo Sorrentino conseguiu desenvolver a simples história de um agiota.
Geremia tem uma vida pacata que se divide entre três cenários: a sua loja, as cobranças e a sua casa – onde vive com a mãe. A personagem da mãe de Geremia acarreta toda a melancolia deste filme, é ela quem traz a aura negra que se vive dentro das quatro paredes que albergam estas duas personagens.
Fora de casa o ambiente que rodeia Geremia não vê, por muitas vezes, grandes alterações, pois esta personagem tem em si grandes influências da forma de estar da sua mãe e da história que envolve esta família (a hereditariedade inevitável…).
É neste mundo de «pede e paga», com toda a sua tensão, que Geremia se vai mostrando um homem mais humano do que seria suposto nesta «função». Muito também pela imagem que é criada através do boca-a-boca, de quem pediu dinheiro e de quem ouviu falar do seu modus operandi.
A história desenrola-se de forma muito interessante e penso que poderá ser feita uma comparação – muito suave – com filmes do género do «Matchstick men».
Mais uma vez – tendo como base de comparação «La grande bellezza» -, Paolo Sorrentino faz o filme valer pela forma como apresenta os planos – a ordem destes e os toques originais de posição e movimento -, pela construção de personagens, nada mais nada menos que, caricatas. Resumindo, fazendo arte dentro da 7ª arte.
Apresenta-nos uma caricatura de certas realidades, de forma mais real que muitos filmes que se dizem baseados em factos verídicos.


The Grand Budapest Hotel (http://www.imdb.com/title/tt2278388/)
Nota: 6,4

A primeira vez que vi o cartaz deste filme fiquei com grande vontade de o ver pela razão mais óbvia, o elenco. O realizador também foi um factor que influenciou - gostei muito do «Moonrise Kingdom» -, mas o elenco foi a razão principal.
Foi então o elenco que salvou este filme. Digo «salvou» porque ficou aquém das expectativas criadas. Os actores oferecem-nos um alto nível de representação, como não poderia deixar de acontecer tendo em conta os nomes – não vou mencionar os nomes visto ser uma lista vasta -.
A forma como Wes Anderson nos conta a história tem o seu toque pessoal, comparando com o filme supramencionado («Moonrise Kingdom») – não é por acaso que é um dos filmes sugeridos nos relacionados do imdb, aquando da pesquisa do « The Grand Budapest Hotel» -. Ou seja, faz com que algumas personagens caiam no ridículo - suavizando o seu cariz de vilão, por exemplo -, e todas elas têm o seu toque de fantásticas, isto é, parecem saídas de um mundo paralelo fora da realidade que conhecemos. Este seu «selo de qualidade» faz com que seja fácil ganhar afinidade pelos seus filmes.
A expectativa acaba por fazer das suas e, quando elevamos um filme a um certo patamar, é impossível não sair desiludido caso este não cumpra os requisitos que pré-estabelecemos.
A história é interessante, a nível de enquadramento histórico, visto que se desenrola numa época que gosto de explorar, a Segunda Guerra Mundial. Também foca um tema interessante e que desperta a curiosidade, a história do Grand Budapest Hotel, que por todo o seu carácter insólito leva a que a forma caricata como a história é contada, acabe por ter lógica – se podemos aplicar esta palavra aqui -.
Na minha opinião, o que pode ter faltado a este filme, poderá relacionar-se com a falta de variações no registo do filme. Isto é, por exemplo, apresentar um carácter mais sério em algumas situações, para que as metáforas e hipérboles tivessem mais impacto e não se caísse na banalização. Acabamos por levar com o mesmo registo ao longo de todo o filme, o que faz com que este perca a seriedade.
A um nível muito pessoal, acabei por não gostar de certas cenas que estavam «acriançadas» demais, sem ter aquele toque do «ridículo» como grandes mestres como o Tarantino (por exemplo) nos conseguem oferecer.
Em suma, um filme que vale a pena ver, principalmente pelas interpretações individuais, um pouco pela história e sempre sem elevar as expectativas.


Love in the Time of Cholera (http://www.imdb.com/title/tt0484740/)
Nota: 7,1

Um filme baseado no romance homónimo de Gabriel García Márquez, que nos traz diferentes perspectivas do conceito de amor.
A história centra-se na promessa de amor eterno feita por Florentino Ariza (Unax Ugalde e, depois, Javier Bardem), após um momento cliché de amor à primeira vista. Este conceito é quase utópico nos dias que correm, havendo muito por onde se julgar aquando do primeiro contacto, além do primeiro olhar. Poderá isto prender-se com o facto das relações amorosas estarem cada vez mais banalizadas na nossa sociedade, perdendo-se, por vezes, a mística do primeiro olhar.
Esta perspectiva e/ou análise social das relações amorosas é outro ponto de vista apresentado neste filme através de, por um lado, a pressão exercida pelo pai de Fermina Urbino (Giovanna Mezzogiorno) e, por outro da relação existente entre Dr. Juvenal Urbino (Benjamin Bratt) e a sua mulher.
No primeiro caso, assistimos ao clássico sufoco de um pai «à antiga» que pretende, além de proteger a sua filha de todos os «predadores», fazer o melhor «arranjo» que traga benefícios monetários bem como estatuto social, o clássico «casar bem».
Em relação ao segundo ponto de vista, assistimos a um casamento típico – digamos - de ambiente mais clássico, onde o marido vê na mulher um objecto de estatuto social para vender a imagem dele como um «bom partido» para a sociedade. Este casamento acaba por seguir um rumo, quase que óbvio, de se manter através da habituação e caindo em todos os clichés inerentes a este estereotipo. Um bom termo de comparação são os ambientes de jogos políticos, onde se utiliza muito o casamento de modo a construir uma imagem positiva.
No que diz respeito à perspectiva de «amor puro», proveniente de uma promessa de amor para toda a vida, começamos a entrar no mundo da utopia, tanto por todos os entraves incutidos nesta história em específico, como pela dificuldade que – infelizmente – as sociedades impõem a este tipo de histórias perfeitas. Existe todo um passado em torno das histórias de amor que tornam este conceito mais e mais utópico.
Sem qualquer noção de que o fracasso é a uma certeza quase certa, no que diz respeito á sua promessa, Florentino Ariza embarca nesta missão eterna, de forma cega e, mesmo, doentia. Assistimos à degradação da personagem, que acaba por deturpar vários conceitos, tendo a certeza que se mantém fiel à sua promessa, pensando que nem por um segundo se desvia da sua missão.
Arranja as mais variadas formas de suportar o peso de tal missão, fazendo da escrita uma arma contra todas as dificuldades que as histórias de amor poderão enfrentar. Tudo o que escreve é com amor, das mais simples às mais complexas palavras. A sua luta pró-amor nunca acaba. Acabamos por conhecer o verdadeiro sentido da hereditariedade inevitável no campo dos vícios amorosos.
Para quem gosta de filmes românticos, este é um filme que nos faz pensar muito acerca do assunto, devido aos pontos de vista apresentados e sustentados por muito boas representações.
Já agora, é a Shakira que tem o prazer de pôr a dançar as cenas deste filme.


Simon (http://www.imdb.com/title/tt0393775/)
Nota: 6,2

Sugeriram-me este filme como um grande filme. Visto que é cinema europeu e olhando para as cenas iniciais, a esperança de um grande momento de cinema aumentou.
O filme começa logo por apresentar a grande estrela da companhia, Simon. Com o seu gorro O.K. e o seu riso de maluco. Esta é a primeira impressão em relação ao seu riso que, ao longo do filme, se torna a sua imagem de marca.
Todo o filme é narrado por Camiel que, talvez por ser a última aquisição do grupo, acaba por ser quem mais facilmente consegue analisar as interacções entre todos os membros do grupo para com Simon e deste com os outros. Não fosse esta quase que uma obrigatoriedade para quem se quer inserir num determinado grupo e/ou ambiente, ou seja, manter-se atento e avaliar para conhecer o seu espaço.
Um ponto positivo deste filme são as características de cada membro do grupo, todos eles especiais à sua maneira e, todos juntos formam um conjunto disfuncional que funciona na perfeição – passo a antítese.
O filme é contado no presente e através de flashbacks. No presente vamos assistindo ao desenvolvimento da doença de Simon, avançando para momentos cada vez mais dramáticos de forma lenta, tal como o avançar da sua doença – ou assim parece pela suavidade com que nos é apresentado. Os flashbacks, todo o relembrar de momentos passados com Simon, ajudam a intensificar estes momentos dramáticos. O filme não chega a cair em melancolia total devido à atitude forte de Simon perante uma doença tão destrutiva. Ele não quer arrastar aqueles que o rodeiam para o abismo em que está a cair e consegue segurar as pontas para que o grupo se mantenha forte e unido em torno de uma causa comum, o bem-estar geral.
No fundo, vi como objectivo central deste filme, o fazer-nos pensar acerca da eutanásia. Mais uma vez, como em todas as discussões polémicas, ter em conta prós e contras e os sentimentos de quem vive directa e indirectamente a situação. Como sempre, basta não querermos apenas o nosso bem-estar e sermos sinceros para que tudo se resolva da melhor forma possível para todos.
Olhando apenas para os pontos positivos deste filme, tal como Simon foi usufruindo momento a momento, também eu o fiz cena a cena (não tão efusivamente…)
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Mensagem por Mig@s » 23 ago 2014, 18:50

O ultimo filme que vi foi o Godzilla e devo dizer que me surpreendeu pela positiva. Estava à muito para ver e ta fabuloso. A historia para mim esta bem pensada e vai de encontro ao que é proposto pelo filme, a unica duvida que tive foi saber de onde surgiu ou como apareceu o Godzilla mas sem problema nenhum. Em termos de qualidade de imagem do Godzilla: JESUS. Fantastico mesmo... Compensa ver o filme so pelos momentos de animação em que aparece a peça central do filme. Aconselho a verem, acreditem.
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Mensagem por TGRIP » 27 ago 2014, 20:03

Migueloliveira80 Escreveu:O ultimo filme que vi foi o Godzilla e devo dizer que me surpreendeu pela positiva. Estava à muito para ver e ta fabuloso. A historia para mim esta bem pensada e vai de encontro ao que é proposto pelo filme, a unica duvida que tive foi saber de onde surgiu ou como apareceu o Godzilla mas sem problema nenhum. Em termos de qualidade de imagem do Godzilla: JESUS. Fantastico mesmo... Compensa ver o filme so pelos momentos de animação em que aparece a peça central do filme. Aconselho a verem, acreditem.
A sério? O filme para mim até foi uma boa banhada.
Eu tenho visto todo os filmes do Godzilla, menos os japas, por causa dos monstros extra que eles põem para lá.
Aquilo fez-me lembrar os power rangers, quando eles se juntavam e punham transformados em robô gigante a destruir as bestas colossais.
As cenas de acção na maioria das vezes de noite...para esconderem os efeitos de destruição ou poupança no orçamento?
Pelo menos no Transformers, quando à destruição nas cidades é de dia e vê-se e quase que se sente o pânico das pessoas na destruição da cidade.
Aqui, foi muito fraco, e ainda prefiro o Gozilla dos anos 80.
A minha opinião, é claro.
etiko
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Mensagem por etiko » 22 set 2014, 22:21

The Broken Circle Breakdown (http://www.imdb.com/title/tt2024519/)
Nota: 7,3

Pensa que ia ver um filme americano (induzido em erro não apenas, mas também, pela capa do filme) e deparei-me com um filme Belga, o cinema europeu bem representado.
Tal como podíamos esperar de um filme típico do cinema europeu trazem-nos o nudismo para quebrar o pudor, utilizam também o tema das tatuagens em ambientes mais conservadores para acentuarem a discussão eterna da adaptação das sociedades aos comportamentos desviantes e brindam-nos com um tema pesado e que nos dá muito que pensar, um casal que enfrenta a trágica tarefa de enfrentar o cancro da (muito) jovem filha.
O filme é apresentado através de uma acção que vai alternando entre o passado e o presente, uma boa forma de apresentar/justificar/enquadrar os acontecimentos/atitudes/reacções das personagens, principalmente do casal protagonista deste filme.
Este casal é jovem e vive num ambiente rústico. A mãe é uma forasteira que abriu uma loja de tatuagens, algo fora do contexto do ambiente em questão. O pai é parte da região mas acaba por se sentir desenquadrado devido ao amor que sente pela cultura country típica dos Estados Unidos da América. O seu romance é digno de uma história de grande qualidade até que a doença da filha se atravessa nesta história de encantar. Nada pior poderia acontecer e dá-nos muito que pensar.
Não fosse este filme realizado de forma a fazer-nos pensar, incluem também outros temas polémicos como a manipulação do povo por parte dos Estados, elevando os seus interesses acima da vida de qualquer outra pessoa. Aplicado a este filme, fala-se das opções existentes para a cura do cancro que não são mais exploradas, não são dados financiamentos, sob argumentos religiosos. Serão estes argumentos simples «palas» culturais ou jogos de interesses?
Esta questão leva-nos a outra questão abordada no filme, a luta eterna entre a religião e a ciência. Volto a questionar, deveremos elevar as convicções acima da integridade dos demais? Deveremos prejudicar apenas porque as normas de certa área ditam que não aceitam certas acções?
Perante o desespero vêm os actos irracionais e a demência atinge sem piedade. As nossas convicções mudam perante momentos impensáveis/inesperados/indesejáveis. A degradação apresenta-se como um fim (muito) difícil de escapar e as forças escasseiam quando somos um contra o todo. Neste tipo de situações, e tal como vi numa série, penso, será fácil ser realista sem ser pessimista? Ou no meio da degradação estes conceitos acabam por ser sinónimos?
Não posso divagar muito mais sobre o filme pois evito sempre ser spoiler e, quando vi o filme, fiquei contente por não saber nada acerca dele, fui mesmo «às escuras» e adorei.
Quero ainda realçar dois pontos fundamentais deste filme: grandes planos e grande banda sonora.
Os planos que mais gostei foram aquém sem expressão, impávidos, vazios. Parece contraditório, mas são mesmo estes os adjectivos que quero utilizar. São planos simples como o ambiente rústico que mencionei e «insossos» para acompanhar o vazio que se vai apoderando do interior das personagens bem como do local onde estas se deslocam (toda a região, em geral, e a casa onde moram, especificamente). São planos que elevam a expressão «uma imagem vale por mil palavras».
A música country (dão muito a este filme!), com as suas letras religiosas (algumas), trazem a contradição «à baila». Isto é o que Didier (Johan Heldenbergh) gosta, esta é a cultura em que quer acreditar, isto é o que ele critica, isto é o que o prejudica.
Acrescento ainda que nada disto seria conseguido sem as grandes representações, especialmente, dos protagonistas.
Agora a escrever esta crítica ao som da banda sonora deste filme, vejo que é mesmo uma obra de arte. O cinema europeu tem alma!


Compliance (http://www.imdb.com/title/tt1971352/)
Nota: 6,2

Foi o conceito deste filme que me chamou á atenção, alguém que através de um telefone consegue manipular a acção de um conjunto de pessoas, levando-os a fazer o que a sua mente psicopata deseja. Aqui o ponto central é a elevada capacidade de manipulação que o responsável pelo telefonema possui. Concluímos que o poder de argumentação pode ser um tipo de arma muito perigoso quando usado para maus fins, tal como podemos verificar a nível político por todo o mundo, por exemplo. Tanto no mundo real como neste filme, os mais capazes utilizam a ignorância dos demais para conseguiram atingir os seus objectivos.
Neste filme assistimos a uma autêntica lavagem cerebral das personagens que vão, gradualmente, sendo inseridas no local de acção principal, uma compartição dentro de uma loja de fast food. O próprio espaço ajuda nesta missão do agressor visto ser um espaço pequeno que «asfixia» as personagens, levando-nos a sentir o mesmo pelas situações desconfortáveis que se desenrolam naquele espaço que se retrai cada vez mais, acompanhando o sentimento da personagem principal. Toda esta demência pode ser ilustrada por um plano sarcástico específico (quem vir o filme vai perceber).
A nível de planos, são de realçar alguns planos pormenor muito bons da comida e do serviço, como por exemplo o plano que foca simplesmente o acto de encher uma bebida, muito bom.
Não há muito mais a dizer sobre este filme. É um filme intenso, o que faz com que a acção se desenrole rapidamente, sem darmos por isso. Acabamos por viver o filme ao mesmo tempo que as personagens. Não é um excelente filme mas também não é mau. Tem os seus pormenores e dá para pensar um pouco, especialmente por dizerem que houveram milhares de casos destes nos EUA.


The Loved Ones (http://www.imdb.com/title/tt1316536/)
Nota: 5,5

O trailer deste filme fez com que não criasse grandes expectativas em relação a este filme e só o vi porque um amigo me disse que o filme tinha uns bons pormenores e que não era tau mau como eu pensava.
Em termos mais técnicos posso dizer que gostei de um ou outro plano em slow motion e das letras das músicas que acompanham a acção, algumas muito bem conseguidas, acrescentando valor ao filme (que vai precisando destes incentivos).
Podemos considerar este filme um filme gore tendo em conta que se centra essencialmente na violência gráfica, tentando ao máximo passar-nos sentimentos de nojo, asco, dor, coisas deste género dignas de uma mente perversa. Consegue cumprir o objectivo? Sim, por vezes. Foi por causa de uma das «técnicas» de tortura aplicadas que o filme me foi sugerido (juntamente com o conceito por detrás desta técnica) mas, sinceramente, não achei que fosse assim tão original e/ou bem pensada para valer a visualização do filme.
Para que não fiquemos constantemente dentro deste tipo de ambiente pesado, e para mostrar que o filme tem uma base cómica/satírica, vamos presenciando uma acção paralela onde a personagem Jamie (Richard Wilson), grande amigo do protagonista, leva ao baile de finalistas uma miúda gótica. Aqui presenciamos alguns momentos realmente engraçados.
Assim de uma forma geral, o filme não tem uma história nada interessante mas pode dar que pensar a algumas pessoas, através dos traumas da agressora. A nível do objectivo gore (caso exista), na minha opinião, penso que devem manter o ambiente pesado ao longo de todo o filme, desanuviando com um grande conceito/ideia em vez de usarem comédia.
Para fechar nada melhor que a cena final, apesar de exagerada, está bem pensada.


Bananas (http://www.imdb.com/title/tt0066808/)
Nota: 6,9

Mais um filme de Woody Allen e, desta feita, o terceiro como realizador.
Explorando o seu historial, vou ficando cada vez mais convicto de que Woody Allen seguiu sempre uma linha de crítica social com recurso à comédia. Sou da opinião de que se somos bons em alguma coisa, devemos explorar essa capacidade e aprimorá-la mais e mais e mais. E assim faz este Senhor do Cinema.
Nada melhor do que começar com um genérico original muito engraçado e colorido e cheio de ritmo. Logo no genérico temos, em tom de sátira, sons e animações alusivos a tiros, que marcam o passo da música.
Depois o filme abre com uma grande cena, mais uma vez sarcástica (não fosse este o tom de todo o filme), de um relato premonitório do assassinato de um presidente ditador, com direito a entrevista à vítima e tudo.
Continuamos com mais cenas que pretendem ridicularizar certos vícios da sociedade norte-americana, como são exemplo a venda de produtos inovadores que qualquer pessoa que pare para pensar percebe que são inventados de forma a criar necessidades junto de quem não se esquece que o cérebro possui a função de raciocinar. Os produtos apresentados neste filme são ridiculamente desnecessários, tornando-os bons objectos de comédia. Woody Allen como «experimentador» destes produtos, actua nas suas demonstrações ao nível de Mr. Bean.
E continua o filme com este estilo no sense, com uma música rápida e alegre que nos transporta para um estilo cartoon juntamente com palhaçadas à Mr. Magoo. No meio de tanta palhaçada, Woody Allen vai-nos passando muitas mensagens críticas e moral (quando se tratam de assuntos mais sérios) tudo de uma forma fluída e sem interrupções do cerne caricato deste filme. Tudo isto como se fazer um argumento deste nível fosse algo fácil.
Penso que o (pouco) SPOILER que apresento no parágrafo seguinte não afecta a visualização do filme em nada. Digo eu que odeio spoiler!
Gostava de me focar em algo que me intrigou e que me levou a fazer alguma pesquisa. Passo a explicar. Este filme é de 1971 e fala de um golpe de Estado em San Marcos na América do Sul (apresentado como fictício numa lista da wikipédia de países fictícios da América, presentes em filme e jogos, por exemplo), golpe que os Estados Unidos da América apoiaram, derrubando um ditador para substituir por um novo presidente que se revelou outro ditador.
Volto a realçar 1971!
Qual não é o espanto, em 1973 os Estados Unidos da América apoiaram um golpe de estado no Chile, derrubando um ditador e, no final, quem acabou por presidir este país foi o famoso Augusto Pinochet, dito como ditador.
Sei que é hábito deste país meter-se nestas «andanças», e que Woody Allen não foi nenhum Nostradamus, mas há que realçar o seu tacto para as situações sociais.
Outra curiosidade a nível de «premonições» foi a cena do intérprete que ajudou na tradução (extremamente necessária…) da conversa entre o presidente de San Marcos e o receptivo nos Estados Unidos da América. Lembrem-se do intérprete da cerimónia fúnebre de Nelson Mandela.
Mais uma curiosidade. Eu que sou mau com caras, consegui identificar Sylvester Stallone neste filme. Procurem, não há-de ser difícil.
E agora tenho de continuar a explorar a filmografia deste Rei da Crítica Social.


The Shawshank Redemption (http://www.imdb.com/title/tt0111161/)
Nota: 6,9

Escudo na mão e vamos lá. Podem começar a arremessar as pedras mas tenho de admitir que fiquei desiludido com «o filme mais bem cotado do imdb», tal como sempre o conheci.
Sei que tenho de enquadrar a opinião com a altura em que o filme foi feito e dentro do género, que pode ser o melhor nesta categoria, todos esses pontos. No entanto, queria mais.
Um filme adaptado de uma história escrita por Stephen King (tal como o nome indica, um Rei), juntamente com tudo o que ouvi deste filme durante vários anos, levou-me a pensar «O que me vai surpreender?», ou seja, qual será o grande momento?
Basicamente a resposta foi, nada. Isto não faz com que este filme seja um mau filme (longe disso!), apenas não me surpreendeu.
Afinal o que é que este filme me trouxe?
Um bom momento de cinema. Começo pelos grandes actores que nunca nos deixam ficar mal, sempre em excelente forma e com actuações muito boas. Morgan Freeman, Tim Robbins e companhia, obrigado!
A nível de mensagem, passa-nos perfeitamente a ideia do que é a vida na prisão, toda a perda de valores inerente a penas de prisão elevadas (essencialmente nestas mas também para penas mais curtas) e o abuso de poder por parte das autoridades que, neste ambiente fechado e controlado, podem exponenciar estes abusos e serem mais «criativos» (com toda a conotação negativa que se possa aplicar a este conceito). Mais uma vez assistimos ao afastar da ética em prol dos interesses pessoais (já me sinto um «disco riscado» por mencionar este tipo de situações nestas últimas críticas).
Foi-me apresentado um conceito relacionado, em parte, com a perda de valores, que explica perfeitamente o impacto das penas de prisão elevadas na personalidade, na vida, dos presos. Este conceito é o de «institucionalizado» e refere-se ao facto de alguns reclusos, por passarem mais tempo presos do que «cá fora», perdem a capacidade de viverem em sociedade, fazendo com que esta opção seja inviável (ou quase). Não estando a defender os reclusos, estou apenas a apresentar o conceito que, pela sua designação, é por si muito esclarecedor.
Como em qualquer filme bem construído, a história é fluída e não damos pelas suas quase 2 horas e meia de duração.
Quero então dizer que gostei do filme e o meu desânimo prendeu-se apenas com o facto de não me ter surpreendido. De resto, bom filme.
Nota: só para dar mais uma «facadinha», os sons dos socos, presentes neste filme, são muito engraçados. Por exemplo, quando voltei a ver partes dos filmes de Bruce Lee (que acompanharam a minha infância), estes sons (utilizados excessivamente) fizeram com que fosse muito difícil ter «coragem» para voltar a rever estes filmes. Mas ainda hei-de fazê-lo…


Nynphomaniac: Vol. I e Vol. II (http://www.imdb.com/title/tt1937390/;http://www.imdb.com/title/tt2382009/)
Nota: 7,2

Vou falar dos dois filmes em conjunto visto que são literalmente a divisão de um filme em duas partes e não duas partes distintas de uma história.
O filme começa com o ecrã preto levando-nos a utilizar a audição como o único sentido de recepção da obra que nos querem oferecer. É uma forma interessante de explorar a arte cinematográfica que, na sua definição, pressupõe imagem. Através dos sons que ouvimos criamos as nossas próprias imagens pois queremos «à força» este resultado, porque à partida, não podemos estar à espera de outra coisa estando a assistir a um filme.
Quando finalmente somos presenteados com imagem, nada melhor que os planos espectaculares que nos são dados, começando a preparar-nos para a cena inicial, através de ruas sujas e pesadas, fazendo planos de cima para baixo e de baixo para cima, explorando buracos, aberturas, orifícios, como que se o cenário tivesse sexualidade.
Posso comparar este filme ao «The Sunset Limited» pelo formato que apresenta de duas personagens que se conhecem - sendo que uma é salva pela outra-, o contar de histórias e o debater de pontos de vistas. Tudo isto leva a que o espectador participe nesta conversa ao absorver as opiniões e/ou factos e ao concordar/discordar e/ou identificar-se com eles ou julgá-los.
Esta é a história de uma ninfomaníaca - que se julga a pior pessoa do mundo por todos os actos cometidos desde o início da sua existência – que é escutada por um inocente – que opina acerca da sua história sem «apontar o dedo». O engraçado deste filme passa muito pela forma inesperada como este homem, com plena inocência, vai comentando passagens das histórias que ouve. Por vezes, faz paralelismos que fogem completamente às ideias formatadas da sociedade ocidental (o que leva o espectador ocidental a ficar surpreendido e, provavelmente, também os restantes) e, outra vezes, utiliza a arte e/ou religião para fazer estes paralelismos.
O filme é muito rico, posso até chamar-lhe uma obra de arte, pela quantidade de informação cultural que fornece (através dos paralelismos supramencionados), pelos planos excelentes (mais ao estilo europeu que ao de Hollywood – em geral) que nos vai oferecendo ao longo de todo o filme, pela forma como está montada a história e pelos excelentes pormenores técnicos de edição (neste ponto gostaria de salientar a ilustração tanto dos capítulos como de algumas cenas específicas do filme).
Infelizmente, no meio de tanta perfeição, tenho de apontar alguns aspectos que fizeram com que este filme não fosse, a título pessoal, um daqueles filmes que me deixam a falar dele durante 1 mês (talvez fique uma semana).
Gostava que as personagens, por vezes, não interpretassem tanto a informação apresentada, deixando isso para o espectador. Mais uma vez querem atingir um público mais vasto, caindo no erro de explicar o que está implícito. Se não explicarem, poderão atingir na mesma um vasto público, a única diferença é que darão azo a um maior número de interpretações, o que penso ser positivo, especialmente num filme em que temos tanto para interpretar – era só mais um pouco.
Outra crítica negativa é o facto de justificarem por palavras (quase que irónicas) alguns clichés que decidem utilizar ao nível da história. É uma forma inteligente de utilizar o cliché nos filmes, ridicularizá-lo. No entanto, não utilizar clichés é o desafio…
Não tenho visto muitos filmes (apesar de estar a inserir tantas críticas de uma vez, foram filmes que vi nos últimos meses), e por isso, sendo este um dos poucos, fiquei muito contente pela elevada qualidade. Resumindo, um filme chocante, provocador e que nos faz pensar acerca de vários temas. Uma peça de arte. Avé Lars Von Trier!
etiko
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Mensagem por etiko » 28 set 2014, 10:32

Thank You For Smoking ([url]http://www.imdb.com/title/tt2024519/[/uel])
Nota: 6,7

Já há uns anos que estava para ver este filme pelos temas controversos que foca: Tabaco, Álcool e Armas. A minha ideia foi a de que o filme iria explorar estas indústrias, esmiuçando os jogos de interesses por detrás das mesmas mas depois…
Começando pelo genérico, gostei muito da forma original como este foi construído. Os nomes dos participantes deste filme vão aparecendo em partes de maços de tabaco (explorando o lettering dos maços americanos e as expressões típicas das marcas de tabaco), tudo isto acompanhado de uma música cuja letra está carregada de sarcasmo (muito engraçada).
O protagonista, Nick Naylor (Aaron Eckhart), tem um poder de argumentação acima da média, não fosse ele o relações públicas que representa a indústria do tabaco perante uma sociedade que está alerta para os malefícios deste produto. A forma como defende a sua indústria mostra que contra factos existem argumentos. Utiliza truques simples como ganhar razão fazendo com que a outra parte perca a sua razão. Ou seja, se A e B argumentam, quando A não tem razão, B ganha a razão (sem que realmente os seus argumentos sejam válidos).
O filme começa com um nível elevado no que diz respeito aos diálogos e juntando-lhe a expectativa que eu tinha relativamente ao tema, a fasquia elevou-se rapidamente.
Então, «para variar», torna-se muito difícil oferecer um final que acompanhe o nível estabelecido na primeira parte do filme e, infelizmente, não cumpriram esta difícil tarefa. Além de não aprofundarem os jogos de interesses, tal como eu desejava (gostaria de algo ao estilo documentário, carregado de factos, segredos e teorias da conspiração sobre estas indústrias), humanizaram o filme e modo a chegarem a um público-alvo mais alargado.
Alguns actores salvam este filme, tendo em conta as suas representações de qualidade. O tema também ajuda visto que não deixa de ser interessante e não deixa de ser explorado, mesmo que de forma um pouco subtil.
Quero também realçar as refeições entre os representantes destas três indústrias, quais Anjos da Morte, a lutar pelo maior número de almas. São momentos de humor negro muito bons.
Não aconselho a não verem, pelo contrário, não é um desperdício de tempo, apenas não cumpriu as minhas expectativas.
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