Minha querida Maria:
Antes de mais, deixa-me referir o tão bonito que o teu texto está
Ora, a minha opinião é um pouco suspeita nesta matéria. É a educação, são os estudos, o trabalho, a idade, e todo um meio que me rodeia sempre à volta do mesmo. Ouço todos os dias a palavra 'injustiça' quando a que mais me fascina continua a ser a da 'justiça'

e há-de sempre ser assim.
Esse problema da segurança social creio ser completamente imaginário do senhor que falou contigo. Com certeza que vive num mundo diferente, com leis diferentes e que costuma conversar com amigos imaginários, depois de passar o dia inteiro a mecanizar frases dirigidas a quem precisa, como se fossem mais um número... Enfim, não o culpo a ele, mas sim à mentalidade que o molda a ser assim.
O problema não se trata, na minha opinião, que vale o que vale, do país. Ontem disse esta frase, enquanto via um programa na tv - 'Portugal é um país de marinheiros e de utópicos'. Continuamos sempre perdidos no passado, no tão grande que fomos, no tão pequeno que agora somos, mas tão distintos. Perdidos no passado de uma ditadura que colocou todo um país em pé de guerra, com consequências dramáticas - e aqui falo, por exemplo, no caso tantas vezes esquecido de soldados do Ultramar que retornaram com sequelas vitalícias, e que com o país lutaram no peito. Por amor ou por sobrevivência, ou pelos dois. O que o país fez por eles ? Nada. O que faz? Nada. Pergunto-me, por exemplo, se estes senhores que se encontram a receber milhões, a 'representar' o povo português, se não abarca a competência dos mesmos de superar e solucionar os erros do passado, digo eu! Somos confrontados todos os dias nos noticiários com a porcaria das mesmas notícias. Foi preciso chegarmos aqui para se consciencializarem que nos encontramos em regressão grave,... tão difícil de recuperar.
Temos acessos a saúde medíocres, porquê? Não é a crise, senhores, é mesmo falta de vontade em ajudar os outros e ajudar quem nos serviços trabalha. Porque aqueles senhores nada falta, nem para eles nem para os seus. Falam todos os dias à boca cheia na justiça, no tão mal que está a justiça. Medidas para proteger, ajudar, colaborar com advogados e magistrados, Não há porquê? Porque dá muito trabalho. Assistência social, um problema que se estende há anos... porque é preciso investir. Ninguém tem vontade, porque não querem saber. Não os culpo, foram os portugueses que neles votaram. E ainda assim, não culpo os cidadãos que neles votaram, porque por vezes a vida é demasiado ingrata para se recusar frigoríficos e televisões de graça.
Continuo aqui a lamentar que a minha geração, outrora apelidada de futuro da nação, se encontre na situação em que se encontra. Lamento ter amigos que lutaram para tirar um curso superior e estarem agora longe do seu Portugal, porque o seu Portugal nada fez por eles. Lamento ter que suportar a minha família com custos excessivos, porque trabalho para não ser remunerada - porquê? Porque é tradição.
Continuamos agarrados todos nós a um passado que já não existe, a tradições que hoje são utópicas.
Tento lembrar-me de quando tinha 5 anos, na composição que tive que escrever com o tema 'O que queres ser quando fores grande e porquê.'
Foi mais um outro desabafo de quem esteve o dia inteiro a pensar. Desculpem-me a seca, aos que tiveram paciência para ler até ao fim
Pelos vistos a tradutora e a revisora são dadas aos desabafos, e sabe bem
Beijinhos, Cláudia
